61🍃 Estados em rede: a sustentabilidade na era digital
Há outras dinâmicas sociais e económicas emergentes que requerem uma compreensão profunda das novas formas de interação, colaboração e criação de valor.
Os estados em rede e outras dinâmicas sociais emergentes desafiam as fronteiras tradicionais ao combinarem interações digitais e físicas numa infraestrutura fluida. A aplicação do modelo do Cosmos nesse contexto exige uma abordagem adaptável, que valorize a interconexão global, a resiliência e a coesão cultural. O modelo não só facilita a inovação e a regeneração de espaços físicos descentralizados, como também redefine o que significa comunidade, ligando propósitos, tecnologias e práticas sustentáveis para enfrentar os desafios de um mundo interligado.
A aplicação do Cosmos da Sustentabilidade e Regeneração em «estados em rede» e noutras novas dinâmicas sociais, económicas e culturais representa um desafio estimulante, que nos convida a reimaginar, num mundo cada vez mais interligado e digitalizado, o que significa ser uma comunidade, um indivíduo, ou até mesmo um Estado.
Os estados em rede, como conceito emergente, não se definem pela sua geografia física, mas antes pela partilha de interesses, valores, objetivos ou identidades comuns, muitas vezes facilitada pela tecnologia digital. Como já vimos, estes novos estados transcendem as fronteiras tradicionais, criando comunidades fluidas e descentralizadas, que se conectam em «espaços virtuais», mas que, simultaneamente, precisam de «espaços físicos» descentralizados onde possam interagir e satisfazer parte das suas necessidades como comunidades. Esta coexistência entre o virtual e o físico torna-se num dos pilares centrais para aplicar o modelo do Cosmos.
Para que o modelo seja eficaz neste contexto, ele deve primeiro reconhecer a natureza única dos estados em rede. Estes são comunidades que operam numa «infraestrutura fluida», em que os seus membros podem estar distribuídos globalmente, mas que partilham uma identidade e um propósito comuns. Este novo tipo de entidade social precisa de estruturas que permitam a colaboração e a ação conjunta, apesar da distância geográfica.
Aplicar o Cosmos a estes estados em rede exige uma reinterpretação de vários dos seus elementos fundamentais, a começar pelo eixo da interconexão. Neste caso, o eixo da interconexão não apenas une o local ao global no sentido tradicional, mas transcende essa dualidade ao integrar uma multiplicidade de realidades simultâneas – os «espaços quânticos» de interação, em que ocorrem trocas constantes de ideias, recursos e influências. Num estado em rede, o local pode ser qualquer lugar onde um membro dessa comunidade esteja presente, e o global é o resultado da agregação de todas essas presenças dispersas.
Os planos do Cosmos também precisam de ser adaptados para atender às características destas comunidades. O plano social, por exemplo, deve ser ampliado para incluir não apenas as interações físicas tradicionais, mas também a complexidade das interações virtuais, que são muitas vezes o principal meio de comunicação e ação dos estados em rede. O conceito de «interdependência adaptativa», em que as comunidades se transformam e evoluem de acordo com as interações entre os seus membros e o ambiente envolvente, torna-se aqui ainda mais relevante. O ambiente digital, os algoritmos e as redes sociais passam a ser vistos como parte desse ambiente envolvente, influenciando o desenvolvimento e a coesão da comunidade.
O plano da consciência global assume uma importância renovada, pois a identidade coletiva e os valores comuns que fundamentam um estado em rede dependem de uma visão partilhada de propósito e de ação. Os estados em rede precisam de mecanismos para constantemente revitalizar e renovar este plano, garantindo que todos os membros permaneçam alinhados com os princípios e os objetivos comuns, apesar da diversidade de contextos locais em que operam.
Como já vimos, embora os estados em rede se caracterizem pela sua estrutura digital e fluida, eles também requerem espaços físicos descentralizados, onde os seus membros se possam reunir, interagir e desenvolver projetos coletivos presencialmente. Estes espaços devem ser projetados para serem altamente flexíveis e adaptáveis, respondendo às necessidades e dinâmicas mutáveis da comunidade. Por exemplo, hubs de inovação, centros de coworking e ecoaldeias podem servir como âncoras físicas para as atividades de um estado em rede, facilitando a interação social, a partilha de conhecimento, a experimentação e a cocriação.
Estes espaços físicos descentralizados não só acomodam atividades tradicionais da comunidade – encontros presenciais ou eventos culturais –, como também se tornam laboratórios vivos para a implementação dos princípios do Cosmos. Aqui, o eixo da inovação e resiliência pode ser plenamente explorado, permitindo que a comunidade teste novas ideias, práticas sustentáveis e soluções inovadoras em tempo real, criando protótipos de futuros possíveis que podem ser replicados e escalados noutros contextos.
Dentro dos estados em rede, os «códigos culturais» ou as «constantes culturais» atuam como elementos estabilizadores ou disruptivos, os quais influenciam a dinâmica do Cosmos. Estes códigos podem incluir normas e valores partilhados, práticas de comunicação ou até mesmo linguagens digitais. A aplicação do Cosmos deve ter em conta estas constantes culturais específicas para assegurar que o modelo é relevante para os membros da comunidade. Ao mesmo tempo, é essencial garantir a flexibilidade necessária para o adaptar rapidamente a qualquer mudança cultural ou tecnológica, mantendo a resiliência da comunidade.
Num contexto de estados em rede, o conceito de «espaço fluido» também se expande. O espaço físico de um membro pode ser temporário e variar conforme se altera a sua localização geográfica. Enquanto o espaço digital é, simultaneamente, constante e fluido, conectado por tecnologias como plataformas colaborativas, IA e realidade aumentada. Este «espaço quântico» de interação permite uma maior flexibilidade e resiliência, em que a localização física de um indivíduo é menos importante do que a sua participação ativa e o seu envolvimento contínuo na vida da comunidade.
Além dos estados em rede, há outras dinâmicas sociais e económicas emergentes que precisam de ser consideradas na aplicação do Cosmos. Estas incluem movimentos sociais descentralizados, grupos de interesse, plataformas colaborativas digitais, economias baseadas na partilha e sistemas distribuídos de governo, como as Organizações Autónomas Descentralizadas (DAO, ou Decentralized Autonomous Organizations)1. Todas estas dinâmicas representam novos desafios e oportunidades para a aplicação do modelo do Cosmos, pois cada uma delas requer uma compreensão profunda das novas formas de interação, colaboração e valor.
Por exemplo, as plataformas digitais, que facilitam a colaboração entre indivíduos e grupos de diferentes partes do mundo, criam formas de «interconexão» que podem não ser totalmente capturadas pelos conceitos tradicionais do local e global. As DAO, que operam em sistemas de blockchain e outras tecnologias descentralizadas, desafiam as noções tradicionais de governo e propriedade, introduzindo novos paradigmas que podem influenciar a forma como entendemos a gestão de recursos e a sustentabilidade.
A aplicação do modelo do Cosmos nos estados em rede e noutras novas dinâmicas exige uma abordagem flexível, capaz de integrar tanto o velho como o novo, o físico e o digital, o local e o global. À medida que essas comunidades emergem e evoluem, o Cosmos oferece uma estrutura para navegar a complexidade destas novas realidades, facilitando a interconexão, a inovação e a regeneração. No entanto, o modelo deve permanecer adaptável, pronto para incorporar novas descobertas, tecnologias e formas de organização social, garantindo que continua a ser relevante num mundo em constante mudança.
No próximo artigo iremos falar sobre o contributo do Cosmos na era da exploração espacial.
É com grande alegria que partilho contigo o lançamento do meu novo livro: “Aprender a aprender com a Natureza”.
Este livro reúne todos os textos que fui publicando aqui no blog — e ainda mais 20 artigos inéditos, que serão lançados ao longo dos próximos meses.
Se quiseres receber o livro personalizado por mim em teu nome, basta ires ao site da editora Alma dos Livros e, no momento da encomenda, introduzires o código “aprender25”.
🎁 Oferta especial de pré-lançamento: ao fazeres a encomenda, recebes ainda gratuitamente um exemplar do livro “Andar a Pé”, de Henry David Thoreau — uma obra breve e luminosa, que celebra o caminhar como gesto de liberdade, atenção e reconexão com a natureza.
✍️ Se quiseres oferecer o livro a alguém com a minha assinatura, é simples. Depois de fazeres a encomenda, envia um e-mail para aprender@almadoslivros.pt com o número da encomenda e o nome da pessoa a quem se destina o livro.
🔔 Nota importante: esta oferta é válida apenas até ao final do mês de maio.
Uma DAO é uma organização baseada em blockchain, que opera de forma descentralizada, sem a necessidade de uma autoridade central. As decisões são tomadas por meio de contratos inteligentes e votações dos membros, geralmente com o uso de criptomoedas ou tokens de governança. Esse modelo promove maior transparência e autonomia para os participantes.
Ver mais em: Buterin, V., A Next-Generation Smart Contract and Decentralized Application Platform, Ethereum White Paper, 2014; Mougayar, W., The Business Blockchain: Promise, Practice, and the 4th Industrial Revolution, Wiley, 2016.